Behaviorismo: a psicologia comportamental de Watson e Skinner
A psicologia é uma área do conhecimento humano bastante vasta. Dentre as diversas linhas teóricas e terapêuticas, existe o Behaviorismo – uma psicologia comportamental – que estuda o comportamento humano a partir das manifestações públicas observáveis.
Neste artigo, você terá uma visão geral desta linha teórica, entenderá suas subdivisões principais e como ela influencia o pensamento atual sobre o comportamento humano.
ÍNDICE DE CONTEÚDO
O que é Behaviorismo?
O termo “Behaviorismo” se origina do termo em inglês “Behavior”, que significa “comportamento”.
O Behaviorismo, também chamado de Psicologia Comportamental, é uma teoria que estuda a psicologia através da observação do comportamento humano.
Sua metodologia é objetiva e científica, fundamentada na comprovação experimental, e não através de conceitos subjetivos e teóricos da mente (como por exemplo o inconsciente psicanalítico).
Em resumo, o grande alvo do behaviorismo é prever e controlar o comportamento humano.
Behaviorismo como oposição ao Internalismo
Para se compreender melhor a proposta do behaviorismo, é necessário fazer o contraponto com as linhas teóricas pautadas pelo chamado internalismo.
Internalismo é como chamamos o entendimento de outras linhas teóricas da psicologia sobre as causas do comportamento. Para os internalistas, essas causas estão sediadas no interior do homem – seja em seu organismo, em sua mente, no inconsciente, nas memórias ou nas emoções.
O behaviorismo opõe-se de maneira enfática a essa visão internalista, e responsabiliza os condicionantes ambientais pelas causas do comportamento humano, e não algo em seu interior.
Como o Behaviorismo entende o comportamento humano
Para estudar o comportamento, os behavioristas se baseiam nos pressupostos:
1. O comportamento deve ser estudado por si mesmo.
Sua causa não se deriva de processos introspectivos, nem de uma suposta alma ou da mente,
2. Oposição ao mentalismo e à concepção dualista do ser humano.
Para o behaviorismo, o corpo é o que compõe todo o indivíduo, não havendo portanto uma divisão entre o corpo e a mente, ou entre o corpo e a alma.
3. Adesão ao evolucionismo biológico.
Leva-se em conta as condições filogenéticas herdadas da espécie. Possui também uma estreita relação com a psicologia evolucionista, que explica o comportamento a partir da necessidade de sobrevivência das espécies.
4. Adoção do determinismo materialístico.
O que chamamos de “mente” é apenas o fruto de ligações entre circuitos de sinapses neuronais, para os behavioristas. Essa modelagem neurológica ocorreria ao longo do desenvolvimento ontológico do ser humano em interação com o ambiente (como a sua história de vida), compondo a “personalidade” ou, na linguagem behaviorista, o “repertório comportamental” do indivíduo.
Dessa forma, não seria preciso usar propriedades não físicas para explicar o funcionamento do comportamento.
5. Adoção da metodologia científica de base positivista.
Os behavoristas utilizam procedimentos objetivos na coleta de dados para análise do comportamento, rejeitando a introspecção.
Eles possuem como base epistemológica (o fundamento de sua teoria) a ciência Positivista, mensurando, realizando experimentações e testes de hipótese com grupo controle.
6.Evitam interpretações particulares sobre o comportamento.
A busca é por uma observação consensual do comportamento, ou seja, o que é observável também por qualquer indivíduo. Evitando interpretações subjetivas da realidade.
Diferenças entre Behaviorismo e Psicanálise
Apesar de ambas as linhas teóricas serem respeitadíssimas, e possuírem um vastíssimo campo de pesquisa, podemos afirmar que elas são como água e óleo em se tratando de compreender a psicologia humana.
Suas bases teóricas são diversas tanto na interpretação do fenômeno psicológico humano, quanto na forma de intervenção nessas estruturas psíquicas.
Exemplo de diferenças na compreensão de comportamentos entre as linhas teóricas
Uma forma de vermos a diferença entre essas duas linhas teóricas é na compreensão do que a psicanálise chama de ato falho.
Ato falho é um equívoco na fala ou na memória.
Por exemplo: comete-se um ato falho ao se dizer “bem-vindos ao último dia desse evento” ao invés de “bem-vindos ao primeiro dia desse evento”.
Para a psicanálise, o ato falho é provocado pelos desejos ocultos do inconsciente que são manifestos na falha da linguagem, e sempre possuem uma razão subjetiva escondida no inconsciente.
Para o behaviorismo, o ato falho é somente uma consequência de um estímulo ou reforçador de comportamentos.
Para entender melhor essa diferença, podemos analisar a fala do presidente Jair Bolsonaro em 2020 em relação à pandemia do COVID-19.
Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar. (Jair Bolsonaro, 2020)
Bolsonaro negava que estava infectado, porém acaba falando a frase em primeira pessoa, indicando que poderia estar com a doença.
Interpretação psicanalítica:
Para um psicanalista, o presidente poderia estar escondendo a verdade sobre o seu estado de saúde, e sua infecção do coronavírus ao cometer esse ato falho. Porém o inconsciente de alguma forma se manifestou nesta fala quando ele fala em primeira pessoa a existência do coronavirus, indicando o conflito de narrativas entre o que se diz e o que se sabe internamente.
Interpretação behaviorista:
Para os behavioristas, os jornalistas poderiam ser estímulos aversivos para Bolsonaro, condicionando-o a emitir respostas não verídicas, para fugir ou se esquivar de uma pergunta.
Como vemos, a forma de compreensão do comportamento é diametralmente oposta entre analistas e comportamentalistas.
Tipos de behaviorismo
Apesar de haver diversas outras ramificações, há duas grandes vertentes behavioristas principais estudadas:
BEHAVIORISMO CLÁSSICO
John B. Watson
O estadunidense John B. Watson foi o primeiro psicólogo a utilizar o termo behaviorismo. Em 1913, publica o artigo Psychology as the Behaviorist views it, inaugurando essa vertente.
O comportamento para Watson é um fenômeno observável, passível de mensuração e concordância entre todos os observadores.
Esse comportamento surge a partir de um estimulo presente no ambiente externo ao indivíduo, ou seja, os estímulos ambientais são as causas dos comportamentos.
No behaviorismo clássico se adota o estímulo (representado pela letra S) e a resposta (representada pela letra R) como partes integrantes do comportamento.
BEHAVIORISMO RADICAL
B. F. Skinner
A publicação do livro Science and Human Behavior por B. F. Skinner em 1953 inaugura essa vertente comportamentalista chamada de radical.
Em linhas gerais, enquanto que para Watson a compreensão da realidade se dava por meio de consenso social, como na frase “a verdade é observável à todos”, Skinner baseia suas pesquisas nas respostas que o indivíduo analisado apresenta. Ou seja, o que o indivíduo diz ou responde deve ser analisado individualmente.
Diferente do Behaviorismo Classico, que tenta universalizar as causas do comportamento usando a observação consensual, o Behaviorismo Radical se interessa pela influencia que o comportamento exerce na experiência de um determinado sujeito.
O que exatamente é o comportamento?
Para entender o behaviorismo, é necessário definir o que exatamente é o Comportamento.
Comportamento é a interação entre um organismo e seu ambiente imediato.
Todo comportamento, portanto, tem um estímulo.
Estímulo (S) é qualquer evento físico ou combinação de eventos relacionados com a ocorrência de uma resposta comportamental (R).
E resposta (R) é a unidade de comportamento que é apresentado (afetado) após o estímulo (S).
Condicionamento comportamental
O condicionamento se torna então uma das formas de controlar o comportamento de um indivíduo.
Condicionamento é um processo de aprendizagem e modificação de comportamento através de mecanismos estímulo-resposta.
O primeiro tipo de condicionamento, denominado Condicionamento Clássico, foi desenvolvido pelo fisiologista russo Ivan Pavlov.
O cão de Pavlov
Pavlov fez uma famosa experiência envolvendo um cão, uma campainha e um pedaço de carne.
O fisiologista percebeu que quando o cão via o pedaço de carne, ele salivava, o que foi chamado de reflexo não condicionado – ou seja, sem intervenção humana direta.
Pavlov também começou a tocar a campainha (estímulo neutro) quando mostrava o pedaço de carne ao cão.
Rapidamente o animal passou a associar a carne com a campainha, salivando também toda vez que ela era tocada, mesmo sem ver a carne.
Criou-se com esse experimento o entendimento sobre o funcionamento do condicionamento clássico.
Reflexo incondicionado ou comportamento respondente
O reflexo incondicionado também conhecido como comportamento respondente é definido como uma resposta que é filogeneticamente instalada no individuo, ou seja, é um comportamento natural transmitido de geração em geração entre uma espécie através de seu DNA.
(o termo filogenético, em biologia, é o estudo da relação evolutiva entre grupos de organismos)
Em regra geral, este reflexo está ligado à sobrevivência.
Condicionamento operante ou instrumental
O conceito de condicionamento operante foi desenvolvido pelo psicólogo norte americano B. F. Skinner. Skinner estabelece que todo comportamento é influenciado também por seus resultados.
A partir desse entendimento, cria-se uma teoria de controle de comportamentos que leva em conta reforços e punições como forma de estimular ou desestimular um determinado comportamento.
É importante compreender o que as palavras “reforço”, “punição”, “positivo” e “negativo” querem dizer para o behaviorismo. Esses conceitos inicialmente parecem contra-intuitivos se formos compreendê-los a partir do senso comum.
Então vamos lá…
Reforço positivo
Um estímulo reforçador pode ser positivo, quando fortalece o tipo de comportamento, aumentando sua probabilidade.
Aqui estamos falando de inserir (+) uma recompensa.
Reforço negativo
O estímulo reforçador negativo também aumenta a probabilidade de um comportamento, porém pela ausência de um estímulo aversivo (que cause desprazer) após o organismo apresentar o comportamento pretendido.
Aqui estamos falando da retirada (-) de algo aversivo.
Punição
A punição, por sua vez, é a aplicação de um estímulo aversivo. Aversão que reduziria a probabilidade do comportamento.
A punição pode ser também positiva (caso em que consiste em se inserir no ambiente um estímulo aversivo, como, por exemplo, um puxão de orelha) ou negativa (caso em que consiste na retirada de um estímulo reforçador do ambiente ou uma recompensa, como na proibição que uma criança receba de assistir televisão).
O esquema abaixo ajuda a compreender este modelo de condicionamento.
Análise Experimental do Comportamento (AEC)
A Analise Experimental do Comportamento é uma área da psicologia que se insere no contexto das disciplinas das ciências naturais (tais como a biologia, a física, a química).
Por ser uma ciência natural, aqui não se utiliza explicações que recorrem a fatores que não existam nas dimensões espaciais e temporais. Ou seja, não se aceitam explicações metafísicas, metapsicológicas, especulativas ou sobrenaturais.
Conclusão
Como podemos notar no artigo, a psicologia comportamental é uma grande linha teórica desenvolvida nos séculos XIX e XX que ainda hoje influencia a compreensão da psicologia humana.
Dela advém a Terapia Cognitiva Comportamental, amplamente detalhada aqui no Saúde Interior para tratamento de transtornos como depressão, ansiedade e síndrome do pânico.
Espero que os conceitos behavioristas apresentados, mesmo que de maneira introdutória, possam ter ajudado a compreender melhor a psique humana.
Se cuide!
Não sei se estou correta mas até onde sei o criador do behaviorismo classico foi Watson, baseado nas teorias de Pavlov. Wundt foi o fundador da psicologia como disciplina academica, e seguia a abordagem criada por ele, o voluntarismo.
Thauane, de fato o behaviorismo clássico é criado pelo norte-americano John B. Watson. O artigo era antigo, e aproveitei seu comentário para fazer uma revisão geral tanto nos conceitos como na forma escrita. Agradeço demais sua colaboração, e fique à vontade para interagir por aqui sempre que quiser! Se cuide! 🙂
gostei muito do seu argumento, me deu um rumo naquilo que queria fazer.
Eu amei. Foi muito específicado
Fácil de entender. Obrigada por compartilhar com todos nós
O método Behaviorista foi aplicado como tratamento em situações de guerras?
Olá Dudu… acredito que sim. Wolpe & Rowan mencionam as sequelas psicológicas do combate, que é uma referência direta às experiências traumáticas vivenciadas por soldados em situações de guerra. Portanto, é possível inferir que a terapia comportamental também poderia ser aplicada em situações de guerra para ajudar a tratar as sequelas psicológicas decorrentes dessas experiências traumáticas. Wolpe, J., & Rowan, V. (1988). The treatment of war neuroses by the method of reciprocal inhibition. Behavior Research and Therapy, 26(1), 25-30.
Olá Alex, Bom dia! Você poderia me informar a data de publicação desse artigo, gostei bastante dele. Fo bem claro e objetivo, gostaria de cita-lo no meu artigo.
Olá Viviane. Quer bom que gostou. O artigo é de 23 de março de 2020. Se cuide!