Cracolândia – uma abordagem integral no tratamento dos usuários
A Cracolândia no centro da cidade de São Paulo é mais um daqueles problemas humanos complexos, originados a partir de múltiplos fatores sociais, para os quais se deseja uma solução rápida, única e simplista.
Este artigo visa evidenciar o aspecto humanista que deve conduzir qualquer abordagem de resolução deste problema a partir da visão de ser humano oriunda da psicologia.
ÍNDICE DE CONTEÚDO
O mal estar na civilização
O mal estar na civilização é notório. Contemplamos na Cracolândia o efeito colateral de uma sociedade psiquicamente doente, angustiada e ansiosa.
E por ser um efeito colateral, devemos interpretar sua origem a partir de suas causas, e não de seus sintomas.
O sintoma é aquelas ruas cheias de pessoas desprovidas de dignidade, causando reações das mais diversas na sociedade, no estado, nas suas famílias e em quem passa ali por perto.
E as causas?
Usuários de crack: origens diferentes e muitas semelhanças
Os usuários de crack que trafegam na cracolândia possuem origens diferentes, porém se assemelham em pelo menos três aspectos.
Primeiro aspecto seria a própria incapacidade dos indivíduos que ali estão de sustentar suas próprias dignidades.
Algo na formação psíquica deles se quebrou de forma que se lançam às drogas e ao niilismo de modo a aplacar as dores profundas da alma.
O segundo aspecto é a incapacidade de suas famílias de lhes darem o tipo de assistência que possa lhes fornecer algum amparo social.
E não falo isso de modo a culpá-los. Geralmente essas famílias possuem problemas internos graves ou simplesmente se vêem incapazes de ajudar devido às escolhas do próprio sujeito.
Por fim, a terceira semelhante é serem todos vítimas da incompetência estatal.
Estamos em 2020 e ainda se vê por aí quem defenda abordagens de tratamento datadas do começo do século XX, motivadas por interesses imobiliários ou simplesmente estéticos naquela importante região.
A procura de uma solução integral e digna
Já temos estudos comprovados em psicologia de que a visualização do ser humano enquanto ser complexo e subjetivo demanda métodos que atendam os diferentes aspectos sociais, de modo integral e digno.
Ou seja, o foco deve nos sujeitos e não na Cracolândia.
Aquele espaço grotesco será naturalmente dissolvido quando os sujeitos que ali estão reencontrarem suas estruturas psíquicas que lhes devolva a dignidade.
Mudança de paradigma da sociedade
A educação da sociedade nessa compreensão é papel do estado e de cada psicólogo.
Somente essa mudança de paradigma poderá frutificar em políticas públicas eficazes, bem financiadas, de forma a aplacar a dor daquelas pessoas, de suas famílias e da sociedade em geral.